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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A fé não move palanques

Segundo o cientista político Rodolfo Teixeira, quando se trata de candidaturas proporcionais – para vereadores e deputados, por exemplo -, definir uma posição religiosa pode até ser interessante. “Há um eleitorado demarcado e a quantidade de votos necessária para se eleger é bem menor do que para cargos majoritários”. Quando se trata de eleição presidencial, porém, o especialista afirma que o cenário muda completamente. “Nesse caso, são milhões de eleitores em jogo e não vale a pena o candidato se envolver em uma discussão tão espinhosa quanto essa”.

Marina Silva, candidata do PV, é o caso mais emblemático. Participante de cultos da Assembleia de Deus desde 1997, não conseguiu atrair nem mesmo a metade dos votos que os evangélicos poderiam proporcionar. Eles representam 25% do eleitorado – uma massa de 33 milhões de pessoas.

Para Teixeira, Marina afastou muitos eleitores que estavam dispostos a votar nela depois de suas declarações sobre temas cercados de polêmica, como aborto, casamento gay, educação e religião. “Quem não gostou, desistiu”. Por outro lado, o professor Márcio Gimenes de Paula, do departamento de Filosofia da Religião da UnB (Universidade de Brasília), acredita que não é a religião que impede Marina de deslanchar nas pesquisas. “Temos uma eleição polarizada entre duas candidaturas e a da petista Dilma Rousseff tem ainda o apoio do presidente Lula, com altos índices de popularidade. Não é a crença de Marina que determina seu lugar nas pesquisas”.

Mudança de estratégiaDilma Rousseff, em um passado recente, costumava driblar perguntas de jornalistas que diziam respeito às suas crenças religiosas. Após subir nas pesquisas, porém, a estratégia mudou. A campanha do PT chegou a divulgar um texto, intitulado “Carta aberta ao povo de Deus”, para, digamos, tentar neutralizar a opinião da candidata frente à Igreja Católica e aos evangélicos. O bispo dom Luiz Gonzaga Bergonzini, de Guarulhos (SP), defendeu o boicote à candidatura de Dilma por considerar que o PT é a favor da interrupção da gravidez. Lula precisou intervir para que o fato não gerasse uma crise na campanha.

Para o professor Márcio de Paula, a carta divulgada pelo PT veio para reforçar a postura menos radical do partido ao tratar de assuntos polêmicos. “Ela tem o mesmo efeito da ‘Carta aos Brasileiros’, assinada por Lula em 2002. Enquanto o presidente queria acalmar os mercados naquela época, Dilma quis acalmar os religiosos desta vez”.

Já o tucano José Serra costuma se guiar pela razão e, apesar de ter uma queda por astrologia – Oscar Quiroga é seu astrólogo preferido -, o candidato do PSDB à Presidência não costuma falar muito sobre suas crenças religiosas. Em debate realizado em agosto pela TV Canção Nova, emissora católica, Serra afirmou que achava bom que o “presidente da República acredite em Deus”.

Para Rodolfo Teixeira, discutir a religião durante as eleições não é a melhor maneira de esclarecer o eleitor – ou ajudá-lo a escolher seus candidatos. “Não acredito que essa seja uma polarização interessante, mas as pessoas não discutem mais o modelo político e social do país e acabam colocando outros assuntos em pauta”. O professor da UnB concorda e diz que os candidatos não precisam se posicionar quanto às suas crenças, já que “ninguém está elegendo pessoas para administrar sua paróquia. É preciso saber se o candidato tem ou não compromisso público”.

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